A endometriose é uma doença hereditária?
Alira Clínica • nov. 12, 2021

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Uma das dúvidas mais recorrentes quando falamos sobre o assunto é: a endometriose é hereditária? 


Apesar de ser relativamente comum, a doença ainda
não é totalmente compreendida pela ciência.


No entanto, mesmo
não sendo possível entender completamente a origem da condição, existem alguns estudos relevantes sobre o tema. 


Quer saber mais sobre eles? Então acompanhe os próximos tópicos!


Quais as principais teorias sobre a origem da endometriose? 

Antes de falarmos detalhadamente sobre a possibilidade da endometriose ser hereditária, é importante explicarmos o que de fato é a doença. 


A Endometriose é uma doença crônica e se dá pelo
crescimento de células e tecido semelhante ao endométrio (camada interna do útero) fora do útero. A resposta das células da endometriose é semelhante à do endométrio normal, crescendo durante o ciclo menstrual e sangrando e inflamando durante a menstruação.


A ciência ainda não consegue explicar com precisão o(s) fator(es) que desencadeia(m) a condição. No entanto, existem algumas teses, que tentam elucidar o surgimento da endometriose e que são conhecidas há mais de 120 anos.


Veja abaixo um resumo das
principais teorias sobre a origem da endometriose: 


Teoria da "Müllerianose" ou embrionária (origem Mülleriana)

Uma das primeiras teorias para explicar a endometriose foi introduzida no final do século XIX, com publicações nos anos de 1895 a 1899. O patologista alemão Von Recklinghausen (1895) sugeriu a origem da doença como sendo proveniente de células remanescentes dos ductos mesonéfricos ou de Wolff, seguido pelos ginecologistas - canadense Thomas Cullen (1896) e americano William Russell (1899) do Johns Hopkins Hospital nos EUA, os quais sugeriram a sua origem proveniente de células remanescentes dos ductos paramesonéfricos ou de Müller. 


Em conjunto, esses estudos sugerem que a endometriose se origina ainda no
período embrionário do desenvolvimento, podendo evoluir gradualmente durante a vida da mulher, especialmente a partir da Menarca, a primeira menstruação, quando os ovários iniciam a produção hormonal estrogênica que, por sua vez, pode estimular as células de endometriose já existentes desde o nascimento. 


Essa teoria é questionada por não conseguir sustentar, de maneira exclusiva, a explicação da origem de todas as formas e locais de manifestação da endometriose. Por outro lado, ela sustenta e justifica o surgimento de endometriose no local mais frequente das lesões - o fundo de saco posterior, incluindo as lesões dos ligamentos uterossacros, da região retrocervical, fundo vaginal e septo retovaginal. 


Além disso, também explica a possibilidade de existir endometriose e dela evoluir em mulheres que não menstruam (ou por anomalias Müllerianas ou por bloqueio menstrual medicamentoso).


Teoria da Metaplasia Celômica

Essa teoria, proposta também no final do século XIX e início do século XX por alguns autores (Iwanoff, 1898; Meyer, 1903; Lauche, 1923), sugere que a endometriose poderia se desenvolver pela transformação metaplásica (quando um tipo celular se transforma em outro tipo de célula). No caso da endometriose, essa transformação metaplásica seria do epitélio ovariano germinativo, da serosa do peritônio que recobre a cavidade abdominal, da pleura que recobre a cavidade torácica, ou mesmo do pericárdio. 


No período embrionário,
o celoma é uma cavidade embrionária que, no adulto, formará as cavidades abdominal e torácica, recoberta por tecido seroso (peritônio, pleura e pericárdio). Todos estes são locais onde lesões de endometriose são encontradas.


Essa teoria, por sua vez, consegue explicar e justificar a presença de endometriose em locais e órgãos distantes do útero e do fundo de saco vaginal. 


Em conjunto, as teorias "embrionária" e da "metaplasia celômica" formam as chamadas
teorias "in situ" (as células de endometriose semelhantes ao endométrio são originadas no local, no próprio tecido acometido). Elas explicam a presença da endometriose, independente da menstruação ou do endométrio.


Teoria da Menstruação Retrógrada 

A Teoria da Menstruação Retrógrada ou Teoria de Sampson como também é conhecida, foi publicada  em 1927 pelo ginecologista americano John A. Sampson, também do Johns Hopkins Hospital, sendo uma das mais citadas e conhecidas para explicar a origem da doença até os dias de hoje.


Segundo essa teoria, que se baseia no autotransplante das células do endométrio uterino original, durante a menstruação existe um
refluxo menstrual ou fluxo retrógrado pelas tubas uterinas.. O fluxo pelas  tubas uterinas permite que o conteúdo menstrual, que inclui células endometriais, possa atingir a cavidade abdominal. Dessa forma, influenciadas por diferentes fatores, as células endometriais se aderem às paredes de outros órgãos próximos, podendo infiltrar e causar a endometriose.


Apesar de ser a teoria mais aceita para explicar a doença, ela não esclarece tudo e tem pontos falhos! Como exemplo, podemos citar os focos de endometriose à distância, como na
cicatriz cirúrgica, no pulmão, na pleura ou no pericárdio que não são claramente explicados por essa teoria. 


Além disso, um detalhe muito importante é que a análise microscópica e molecular das células de endometriose é bem diferente da análise do endométrio uterino original. Assim, a teoria do autotransplante pelo refluxo menstrual pode ser questionada, já que as características não são as mesmas.


Por fim, é importante ressaltar que a menstruação retrógrada é
comum e ocorre em cerca de 90% das mulheres. Entretanto, a maior parte desse grupo não desenvolve  a doença, já que a prevalência da endometriose é estimada em torno de 10% das mulheres em idade reprodutiva. 


Esse fato também corrobora para múltiplos fatores causais, ou seja, a combinação de diferentes teorias para explicar, de maneira completa, tudo que a endometriose representa na prática.


Teoria da Disseminação linfática, hematogênica e iatrogênica

Essa teoria foi utilizada por muito tempo para tentar explicar a ocorrência da endometriose em locais e  órgãos distantes do útero e da cavidade pélvica.


Segundo a teoria da disseminação linfática e hematogênica, o tecido endometrial seria transportado por meio dos
vasos linfáticos e/ou sanguíneos para regiões distantes da cavidade pélvica. Alguns estudos, inclusive, identificaram a presença de endometriose em linfonodos (tecido do sistema linfático) da região pélvica / abdominal.


A disseminação
iatrogênica está relacionada a situações em que a exposição e o contato direto das células endometriais com outros tecidos pode induzir o desenvolvimento da endometriose neste local. É a teoria mais aceita para explicar o desenvolvimento da endometriose de parede abdominal em cicatriz de cirurgia prévia, especialmente e mais comum, a cesariana.


Teoria Imunológica

O sistema imunológico tem a habilidade de reconhecer células e tecidos estranhos, que não pertencem à composição original do organismo ou ao local onde se encontram. É papel do sistema imunológico (de "defesa"), eliminar estas células "estranhas" ao organismo, por meio de suas células "especiais". 


Segundo a teoria imunológica, mulheres com endometriose têm alterações no seu
sistema imunológico, que acabam por prejudicar este mecanismo    de defesa e "limpeza" automática das células "anormais", no caso, as células de endometriose, por estarem em áreas onde não deveriam. 


Dessa forma,
nas mulheres com endometriose,as células do endométrio, quando caem na cavidade abdominal, não são removidas pelas células de defesa e têm a possibilidade de se aderir e infiltrar outros órgãos, bem como de se proliferar sob as diversas influências hormonais e ambientais. 


Teoria Epigenética - Fatores ambientais 

Essa teoria diz respeito a tudo que vai além da genética, ou seja, do nosso DNA herdado, caracterizando diversos fatores que podem modificar a expressão e atividade dos nossos genes, contribuindo para o aparecimento ou avanço de doenças. 


Entende-se por fatores ambientais não apenas fatores poluentes, que podem ser encontrados e inalados no ar poluído de grandes centros urbanos, mas, também, fatores ligados ao nosso estilo de vida. A qualidade da alimentação tem um papel muito importante nesta contribuição. Além dela, a qualidade do sono, o estresse crônico e a saúde emocional podem, de alguma maneira, interferir de maneira prejudicial, alterando a atividade de diversos genes.


Algumas substâncias químicas denominadas
disruptores endócrinos, têm a capacidade de desregular a função hormonal no nosso organismo e, como consequência, poderemos ter efeitos epigenéticos em determinados genes.


Essas substâncias podem ser encontradas em diversos produtos como cosméticos, aditivos alimentares, produtos de higiene, pesticidas, embalagens e recipientes de plástico policarbonato, que fazem parte do nosso dia a dia.


Dentre poluentes conhecidos e pesquisados, com ação direta na endometriose, destacam-se as
dioxinas, principalmente o TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzeno-p-dioxina). 


A endometriose é hereditária? 


Teoria Genética


Para responder a pergunta do título deste artigo, após conhecermos as principais teorias sobre a origem da doença mencionadas até aqui,  temos que entender a teoria, que provavelmente é a mais importante e que faz intersecção com todas as outras: a teoria genética.


Muitos estudos têm sido publicados nos últimos anos no sentido de entender melhor o papel da genética na endometriose. Apesar desses estudos ainda não serem conclusivos,
podemos dizer que o fator genético e hereditário, definitivamente, têm participação no surgimento da doença. 


Um estudo de revisão muito completo publicado no respeitado
The New England  Journal of Medicine, em 2020, demonstrou tudo o que já se sabe sobre o papel da genética e a hereditariedade na endometriose, com base nos principais estudos publicados até o presente momento.


Estudos em gêmeas estimam que a
herdabilidade da endometriose (proporção do risco de doença atribuível à variação genética)  é de aproximadamente 50%. Estudos de ligação do genoma inteiro em famílias com vários casos de endometriose identificaram apenas duas regiões de ligação, abrigando, provavelmente, variantes de risco raras. E a conclusão foi de que é muito pouco provável que esses achados seriam responsáveis pela alta prevalência de endometriose nas famílias estudadas.


Variações genéticas comuns representam cerca de 26% do risco de desenvolver endometriose.


O que a ciência já é capaz de afirmar é que não há apenas um gene relacionado com a doença. Na verdade,
mais de 200 genes já foram identificados por meio de pesquisas até o momento, caracterizando a endometriose como uma doença de origem poligênica.

O caminho para novas descobertas sobre como a endometriose se desenvolve, seus diferentes tipos de apresentação clínica com características distintas, novas formas de diagnóstico e de tratamento, sem dúvida será pelos estudos genéticos nos próximos anos. Com certeza, a teoria genética da endometriose ainda trará muitas respostas que procuramos.


Por hora, sabemos que existe sim um
papel fundamental da genética no surgimento e desenvolvimento da doença mas, a predição de risco na endometriose ainda não é factível como acontece em outras doenças, pois as variantes genéticas identificadas até o momento representam uma pequena porcentagem de risco.


Mais importante do que responder se, de fato, a endometriose é hereditária ou não, é entender que existe apenas uma forma de tratar a doença da maneira correta: com
auxílio médico. Portanto, é fundamental o acompanhamento especializado assim que os primeiros sintomas surgirem. Fique atenta!


Quer saber mais sobre a endometriose? Entre em
contato com a Clínica Alira para mais informações! Conte conosco!


Responsável técnico:

Dr. Giuliano M. Borrelli

CRM-SP: 116.815 | RQE: 55.634

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